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André Carvalho
Lost in Translation Vol.II
CD
Clean Feed 2023

 

 

Se o nome do disco de André Carvalho nos remete para o filme de Sofia Coppola (Lost in Translation, 2003), a expressão inglesa representa aquilo que sempre se perde numa tradução e que é específico de uma língua. A expressão, com mais acinte, tem um equivalente italiano: «traduttore, traditore», denunciando a impossibilidade da tradução e, já agora, o avisado Herberto Hélder esclarecia que as suas adaptações para língua portuguesa não eram verdadeiras traduções mas apenas «poemas mudados para português».
O que André Carvalho iniciou em 2021, e este disco prossegue, é a procura da música capaz de interrogar essas palavras intradutíveis, reflectindo a estranheza da singularidade e a impossibilidade do reconhecimento, como o desacerto que uma palavra como esquisit poderia adquirir numa tradução errónea. Oito palavras, retiradas dos vocabulários farsi, hausa ou finlandês – línguas que não se confinam a nações -, para oito composições que acompanham esse sentimento (de estranheza), mas outrossim pela definição da música como forma de arte abstracta (confirmando a impossibilidade da tradução).
As palavras são assim para André Carvalho possibilidades – nem mais –, fornecendo o leit motiv, para os improvisadores: o trio, isósceles e instável - interpelando ou apenas contemplando, usando as notas, explícitas, ou em afago, o ruído e o silêncio, uma tensão que apenas se adivinha, ignorando as regras de sintaxe em exegese ou acidente.

 

José Soares (s)
André Matos
(g)
André Carvalho (ctb)

(Este texto foi publicado no Jornal de Letras)